domingo, 31 de janeiro de 2010

Um outro filme.

Aqui tem o físico carioca, mas uma atmosfera cinematográfica, não sei se é assim por ser desconhecido ou porque cansei do meu filme no Rio de Janeiro. Porto Alegre parece uma comédia romântica pelas ruas de São Francisco com personagens sérios, observadores, de fala enfática, quase agressiva. Pessoas de poucos sorrisos e reticentes no diálogo, como se pudessem ficar o dia inteiro conversando, até o sol se pôr às oito horas da noite, como se qualquer momento fosse oportunidade para fazer amigos. Em seus pedestais: seus valores e suas culturas, que não vendem na rua num copo de plástico. Se assemelham ao papel da mãe de família com um sobrenome perpetuado há séculos pela nobreza, que acolhe todo mundo em sua casa de mesa farta e muita conversa de casamento, vida de dona de casa, e de como os tempos mudaram: "as crianças de hoje não são mais as mesmas"

Saindo do aeroporto, táxis, pessoas, placas, malas, ruas... Tudo ilegível. Quatro cariocas ilhados pelo desconhecido, qualquer passo em falso estaríamos perdidos entre prédios, casas, lojas, avenidas, mas no meio do nada.

Ao chegar no quarto do hotel, o êxtase, correndo pelos corredores, pulando nas camas e sorrindo a satisfação da liberdade, entre aspas, "liberdade". Pois o que me prende em casa, me acompanha aqui, dentro de mim, com suas cobranças implícitas, com suas expectativas, com suas questões mal resolvidas, com suas fodas mal dadas, com filmes que eu já reprisei muitas vezes. E não quero mais.

Quero mais filmes para mim, todos possíveis, coadjuvar em variadas vidas e cidades. Coadjuvar, sim. Não quero protagonizar histórias senão a minha. Num filme, muito gira em torno do personagem principal, se ele sai, o sentido das coisas se perde e desaba. Não quero a pressão de estar sempre lá, não quero pra mim a culpa da queda. O coadjuvante não depende do protagonista para ser alguém. Ele vive sua história entrando em outras, ajudando no que for possível e podendo ir embora quando quiser, pra encaixar mais uma peça no jogo que é sua vida.

Um comentário:

  1. Muito bom. Parabéns. Adorei a forma como você se expressa.

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