sábado, 23 de agosto de 2008

Jornada nada mais que cotidiana: No ônibus


Lá vem ele, com seu frescor e iluminação itinerária. Pelo encremento, meu troco de bala é útil para desfrutar dessa competição nada mais que cotidiana, mais útil até que meu "boa noite" ignorado pelas explicações de localidades, liberações de catraca, jornais lidos e relidos acumulados em um só ser, entediado de reparar na troca de outdoors tão rotineiros quanto passar a marcha.

Ligeiro, calculara o quão longe o troço poderia parar, assim, entraria primeiro que os adversários e garantiria as medalhas do comodismo. Bronze ao banco modesto e discreto, prata ao acento mais alto, ouro ao tão cobiçado controle sobre ela, que é a mais paparicada do nosso querido e invejável transporte coletivo: a janela. Aos retardatários, o prêmio de consolação depende da solidariedade, disposição e modestia dos campeões, que hesitam em oferecer ajuda com as bolsas e mochilas colocando-as no colo, sendo esse o mérito para consolar os perdedores.


Durante a viagem, jogos são bem vindos. Meu preferido? Uma prova de resistência onde devo te encarar por tempos sem desviar os olhos. O que parece tão fácil, praticando não é tão simples assim, pois vc percebe as temíveis expressões bruscas e saturadas de um dia de trabalho. Quando esses olhos lhe percebem com seu joguinho lançam bombas oculares, e se você não for tão forte, é bom desviar sua reta dessa visão incômoda.


Meu destino: minha casa, meu banho quente. Estou cruzando a porta, me lavarei dessas impurezas da cidade, elas e os detalhes dessa jornada nada mais que cotidiana se esvairão junto d'água que antes estivera em minha cabeça, ambos em minha cabeça. E ao acordar amanhã estarei pronto para mais um capítulo inútilmente detalhado de minha rotina. Mas agora ainda estou girando a torneira, e dos meus pés, escorre para o ralo as primeiras gotas.

8 comentários:

  1. Nossa amorr...
    realmente profundo...lindo lindo....
    prabens...pq relmente ess nossa rotina e mt cansativa...^^

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  2. Digno. Gosto dos seus textos. Você faz daqueles momentos insignificantes, textos até reflexivos, que nos fazem prestar mais atenção nos detalhes. Muito bom mesmo. (:

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  3. Rapaz ! Muito bom hehehe Nunca tinha parado pra imaginar o jogo que enfrento todos os dias =P

    Vlw pelo comentário, aliás nem encana não ter tido nada pra falar hehehe

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  4. Bom texto, gostei da maneira como retratou um evento banal do cotidiano.

    Passou pelo teste do primeiro post. Merece ser conferido o resto do blog...hehe

    abs

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  5. Às vezes eu fico cansado de tanta medalha de ouro :P

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  6. Estou no caminho do ponto, compro balas e jujubas para diminuir o valor da cédula que tenho em minhas mãos. Do lado de fora, ainda esperando, olho atentamente nos olhos dos seres que passam dentro dos outros monstros {ônibus}. Alguns te olham, alguns transmitem emoções. Medalhas? Nenhuma me pertence, à não ser a de sentar em escadas. Mas se a janela vier à mim, o ser mais feliz serei, terei o VENTO em meu corpo, invadindo minha aura. O fone de ouvido ajuda no transporte de localidade. De dentro do monstro , me imagino na mais alta cachoeira ouvindo 'ai ai ai' de Vanessa da Mata. Belo post Vinícius, Mas lembre-se que ao ir se banhar, você não escorre preto, você escorre VIDA !

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  7. "You teach me and I'll teach you"

    Primariamente vamos às pechas, poucas porém existentes:

    1 - O seguinte trecho pareceu-me ligeirmanete confuso: "dos campeões, que hesitam em oferecer ajuda com as bolsas e mochilas colocando-as no colo, sendo esse o mérito para consolar os perdedores.".

    2 - Em "junto d'água que antes ESTARA em minha cabeça", ESTARA deve ser substituida por ESTIVERA.

    Quanto ao mérito, ora!, há de se aventar a beleza desta crônica do cotidiano. Gostei da forma da escrita e da cadência. Porém não adiro deste excerto: "capítulo inútilmente detalhado de minha rotina." - O simples fato de servir para que o texto fosse feito já mostra que sua rotina, ainda que não muito boa, tem seu valor mais ainda a escrita e forma de exprimir algo bobo com bons ares olímpicos. Creio que de o senhor seja medalha de ouro diuturnamente nessa competição feroz.

    Um beijo e não deixa a revolução dos botões morrer.

    "Liberté, égalité, fraternité"

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  8. Vou ser babaca e usar tudo o que meus dois períodos de faculdade de letras abandonada me deram...
    A lírica cotidiana, fenomenológica, que procura a profundidade por trás da superfície das coisas, quintanament, manuel-bandeiramente, nos delicia por sua universalidade, nos seduz por sua pessoalidade. São Vinícius! E eu gosto disso...

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