Hoje aconteceu algo comigo que me deixou chateado:
Na Leopoldina as 7hrs, estava esperando o ônibus para casa(estava voltando de uma festa). Comigo e meus botões estava pensando alheiamente nas banalidades da vida, quando chega um homem moreno com uma cara simpática. Ele me surpreendeu surgindo do nada na minha frente, percebendo isso, ele disse que não era ladrão, era um engraxate, e queria engraxar meu tênis, mas eu não deixei porque isso não faria bem pro tênis que eu estava usando e tal... Mesmo eu não deixando completar o serviço ele me pediu dinheiro,(para comprar o leite da familia e etc) mas eu disse a ele que estava só com o dinheiro da passagem contado e não poderia ajuda-lo, o que por acaso era mentira, mas o 'não' estampado na cara as vezes fala mais alto.
Depois disso, ele resolveu tomar uma drástica argumentação e disse:
-Cara, é o seguinte: olha pra minha cintura, eu estou com uma 'peça'(em outras palavras, arma) aqui e só quero o aparelho.
Eu fiquei olhando fixamente pra ele, enquanto meu coração começava a bater mais forte.
-Cara, só quero o aparelho. Quer perder a vida?
Eu olhei pra ele e balancei a cabeça como fazendo sinal de desaprovação e disse:
-Cara, você não é obrigado a passar por esse papel - eu sabia que ele não estava armado, embora tivesse visto um volume na cintura dele.
Ele olhou pra minha cara, baixando a guarda e falou:
-Valeu - e me estendeu a mão para cumprimentar.
Então eu o abracei e desejei:
-Tudo de bom pra você, cara.
Então, meu ônibus chegou e fui correndo para que ele não fosse embora sem mim.
Isso ficou me perturbando até agora e eu queria postar sobre.
Analisando o fato:
Enquanto muita gente dormia, em pleno domingo de manhã, ele estava tentando arranjar seu dinheiro. Primeiro, tentou prestar seus serviços a mim, depois quando viu que eu não os queria apelou e tentou me assaltar, aproveitando que eu tenho cara de babaca(sim, tenho) disse que tinha uma arma achando que eu ia cair no golpe.
O que me impressionou foi a expressão no rosto dele de desespero, ele estava tentando de todas as formas possíveis arranjar um dinheiro pra ele. E isso me fez pensar em dar o dinheiro que eu não usaria para o ônibus para ele, por compaixão mesmo.(ele estava necessitado) E o fato de eu não ter dado o dinheiro pra ele ficou me perturbando. Eu tenho o dinheiro que ele poderia comprar algo pra comer, mas não dei por causa da resposta automática que temos quando chega uma pessoa assim pedindo alguma coisa: 'não'.
E fiquei pensando com meus botões: até que ponto ele chegou só pra conseguir comer.
Vivendo na margem, vendendo o almoço pra comprar o jantar. Enquanto troca olhares com os passos corridos do centro da cidade que trabalham pra comprar suas casas e carros para morrer em paz e conforto, ele só se preocupa em conseguir comer, para quando terminar a comida ele se preocupar novamente para arranjar de novo sua janta. Enquanto ouço Stronger da Britney ele deve estar lá na Leopoldina ouvindo as buzinas dos carros e o roncar do estômago. Isso sem contar pelo fato de que se eu tivesse dado aqueles 5 reais que sobraram ele poderia comprar algo pra ele almoçar e jantar, mesmo que fosse um simples joelho e guaraná natural. Enfim, são essas coisas que me deixam chateado: Esses extremos, essas respostas automáticas, esse desespero, esse arrependimento, essa martelada na minha cabeça.
domingo, 18 de maio de 2008
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Nem tudo são flores
ResponderExcluirEu já havia pensado nisso várias vezes, mas nunca cheguei a comentar com alguém ou postar em algum lugar.
ResponderExcluirEu tenho certeza que se eu estivesse contigo eu começaria a chorar como uma idiota.
Mas o fato de você ter o abraçado foi uma coisa muito linda da sua parte. Eu tenho certeza que isso mexeu com ele. :)
Uma coisa bem tipica da central que aconteceu com vc.
ResponderExcluirMas sabe o que me vem na mente as vezes tambem? esses caras que 'tentam um tudo pra comer' podem está querendo o dinheiro para outro baratos que ele pode ter, não é preconceito, mas já vi um vendedor de balas super drogado dentro do trem falando toda hora que ninguem nunca compra nada, que ele fica puto com isso e começa a robar.
As vezes a gente precisa convencer que não tem dinheiro, como sempre estou bjus.
Botei fé no texto!
ResponderExcluirA vida ñ é como agente espera!
Mas valeu!
http://sembaixas.blogspot.com/
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirpara mim não há motivos para assaltar ou roubar. bandido é bandido, seja por necessidade ou safadeza.
ResponderExcluir"Não dê esmolas, dê futuro"
ResponderExcluirJá vi isso em algum lugar...
www.aidanada.blogspot.com
Cara, muito foda o texto.
ResponderExcluirA situação do mundo me incomoda muito, as pessoas passam pelas ruas e praticamente ignoram os mendigos nas ruas. Eu até vejo pessoas que ligam, mas como se julgam incapazes, mesmo nunca terem tentado nem mover um dedo por eles, então preferem fingir que eles não existem, ou pior, já ouvi muita gente dizendo que queria que matassem todos os mendigos... Pq as pessoas tem que ir sempre pelo caminho mais fácil?? A raiz do problema está na falta de oportunidades. Ou melhor, no capitalismo mesmo.
E mesmo a questão de achar que vão usar o dinheiro pra comprar drogas... Uma vez uma menina da escola me disse uma coisa, "vcs acham que é facil morar na rua e nao saber se vai ter comida amanha? eles podem até serem chamados de fracos, mas foi o jeito que alguns deles encontraram pra fugir da realidade que vivem" E faz muito sentido...
Mas mesmo assim, não concordo com a ideia de um cara, que fica esperando na porta de um banco num dia de pagamento ,ou não, uma pessoa sair pra assalta-la depois... ele compra comida, ou outras "coisas", e o outro morre de fome? não sei, acho melhor fazer a revolução mesmo.