quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Ele sentou ao meu lado... ou sentei ao dele... não lembro... nenhum dos dois reparou. Ele olhava para fora de tudo: de si... da janela... dos outros. Com o olhar fixo, será que penetrava ou acariciava aquilo que seus olhos encontravam? Tinha a impressão que sua visão atravessava tudo de uma só vez, atropelando qualquer camada da percepção, da moral e educação.

Não importava o que, mantinha fixos os olhos lá. Esquecia de me ver aqui do lado, esquecido de lhe ver ali vendo o céu que de azul inundado, amarelo iluminado, se cobria de um cinza profundo, gradativo, como se ninguém visse o pequeno buraco de uma tarde de primavera sumir no algodão não tão doce de uma nuvem molhada. Isso o excitava, dava para sentir quando encostava a cabeça para trás e lançava os olhos para cima, onde não me via, enquanto ninguém o via, nem eu.

Um comentário:

  1. Sentia-se muito jovem; e, ao mesmo tempo, indizivelmente velha. Passava como uma navalha através de tudo; e ao mesmo tempo ficava de fora, olhando. (Virginia Woolf in Mrs. Dalloway)

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